Como criar um app ou startup sem saber programar

Uma pergunta que eu recebo muito frequentemente é: “como eu tiro a minha ideia do papel?”. Geralmente, essa ideia (de app, site ou startup) vem de alguém que não sabe programar, que não tem conhecimento técnico, já que um programador pode não saber os caminhos das pedras para montar uma startup, mas ele consegue dar os primeiros passos. Essa é a grande vantagem de quem sabe programar. Se você está nessa situação, tem uma ideia e não sabe programar, quais são os caminhos ou as estratégias e ferramentas para tirar isso do papel? Vamos lá!

Primeiro ponto importante: muitas vezes o pessoal fala “como eu posso pegar um investimento para a minha ideia?”. Algumas pessoas podem discordar da minha opinião, mas minha resposta é que é impossível conseguir investimento só com ideia. Eu sou da opinião de que ideia não tem valor nenhum, e que nenhum investidor sério ou profissional vai colocar dinheiro em ideia, porque nenhuma startup de sucesso termina do mesmo jeito que começou, então a ideia inicial quase não conta muito. É mais um primeiro passo, e vai ter que ser ajustado muito isso.

Então, nos estágios iniciais, o investidor aposta muito mais na equipe, que vai conseguir fazer os testes corretos, de modo rápido, sem gastar muito, até achar o caminho certo. Então se apostar em ideia não faz o menor sentido, os únicos casos que eu já vi da pessoa conseguir levantar dinheiro com ideia são empreendedores que já tiveram projetos de sucesso no passado, já provaram que sabem fazer, e depois desse sucesso sim, o pessoal risca o cheque em branco, principalmente investidores antigos que já confiam nele.

Você pode tentar com amigos e parentes, já que como não são investidores profissionais, eles podem não calcular o risco e acabar dando um pouco de dinheiro na sua mão para executar uma ideia, mas também é pouco comum e costuma dar problema. Então esqueça isso! Se você quer tirar a sua ideia do papel, você mesmo vai ter que fazer. Se você tiver o seu, você pode investir um pouco, mas não conte com dinheiro de terceiros para isso.

Segundo ponto muito importante: para você testar e começar a validar uma ideia, você não precisa de produto, não precisa de código, nem de aplicativo. Existe um ditado que eu acho muito interessante: “Se você não consegue vender algo sem ter o produto já desenvolvido, você não vai conseguir depois de tê-lo”. Então não adianta ter o aplicativo, ter o site, ter tudo pronto, se você ainda não testou e não validou quais vão ser os canais que você vai promover, distribuir e alcançar o seu consumidor alvo.

Então primeiro identifique isso, que é tão importante quanto o produto, e teste isso. De que modo? Você pode conversar com o seu cliente, leva um powerpoint. Um exemplo: no InstaDelivery, que é uma das minhas startups hoje (onde fornecemos cardápio digital), os primeiros testes que eu fiz para ver se teria aceitação eu não tinha o aplicativo pronto, e eu sou programador, eu conseguiria fazer, mas eu quis economizar meu tempo.

O que eu fiz: pedi para um designer que trabalhava comigo fazer algumas telas de como seria o aplicativo e fui a alguns restaurantes com o celular na mão e falei que era o aplicativo. Nem falei que não estava pronto. Como havia várias telas prontas, eu conseguia dar arrastar para o lado e mover de tela para tela bem em cima do botão. Parecia que o aplicativo estava funcionando. Talvez alguém com mais conhecimento em tecnologia perceberia que eram fotos, mas na hora que se está fazendo o pitch e tentando vender, o cara vai só bater o olho e não vai nem prestar atenção no que se está mostrando. A venda que vai convencê-lo ou não.

Com base nisso, tive um feedback inicial legal, vi que poderia ter aceitação e só depois dessa validação inicial eu comecei a fazer o produto. E mesmo com o produto feito, fui tentar vender e foi um desafio. Demorei um ano, junto com o meu sócio, mapeando o que precisava e o que não precisava ter no produto, só levando “não” de cliente que começava e cancelava depois de uma semana. Levou um ano para a gente chegar em uma coisa mais ou menos alinhada com o que o dono de restaurante precisava. Tente validar e vender a sua ideia antes de mexer em código e gastar dinheiro e tempo tentando criar esse produto. Só depois de ver que tem algo aí é que você deve gastar dinheiro.

Se tem uma ideia, está confiante e quer apostar um pouco do seu tempo e dinheiro, você tem quatro opções principais. A primeira é aprender a programar e meter a mão na massa, fazer você mesmo. Isso é interessante não para todas as pessoas, mas se você é jovem e gosta muito de tecnologia, sabe que quer trabalhar com isso, eu acho que é o melhor caminho.

É uma decisão que tomei lá atrás. Sou formado em economia, embora já mexesse com os meus sites desde antes da faculdade, mas a partir do momento em que comecei a fazer projetos um pouco mais complexos, cheguei nessa bifurcação. Eu tinha um dilema: ou eu aprendia a programar, ou eu contratava. Como eu adorava tecnologia e já via isso como uma carreira para a vida, eu falei “Quer saber? Já vou tirar isso da frente. Já vou liquidar essa fatura agora, aprender a programar, vou gastar dois ou três anos de perrengue”, mas foi a melhor decisão que eu tomei até hoje profissionalmente.

Abriu um leque enorme, não só para conseguir criar os meus próximos projetos, mas também entender o que é possível com tecnologia e o que não é, onde está a vanguarda hoje, o que o pessoal não tentou ainda. Foi muito bom para mim, mas não acho que seja necessário. Eu acho que uma pessoa pode ter muito sucesso também com tecnologia e startups sem saber programar, se ela se estruturar bem, trouxer as pessoas certas como parceiras, etc.

Mas se você gosta de matemática e lógica e vê na tecnologia uma carreira de longo prazo, acho que pode valer a pena aprender a programar. Existem cursos disponíveis gratuitamente na internet — os melhores cursos, inclusive, estão disponíveis. Tem um curso do MIT que é excelente (“introdução à programação”). É só acessar o YouTube ou os sites que você consegue aprender, pode também frequentar as aulas de alguma faculdade em sua cidade. Essa é a primeira opção.

A segunda opção para quem não quer aprender a programar, não tem tempo ou não gosta muito de matemática, é buscar soluções sem código. Existe uma série de ferramentas hoje — e isso está ganhando muita atenção nos últimos anos — que permitem você criar aplicativos mobile, web, de qualquer tipo, sem saber programar. São interfaces visuais onde você arrasta e vai dizendo o que precisa ser a função. Então é totalmente possível você criar um aplicativo (seja ele mobile, seja ele web) sem saber programar. Só vai ter que gastar um pouco de tempo para aprender a utilizar essas ferramentas, mas dá para fazer.

O terceiro ponto é terceirizar. Você não sabe programar, também não quer gastar tempo ou não tem tempo. O que você pode fazer: contrate uma empresa ou um programador profissional para fazer a primeira versão (o mínimo possível, MVP, porque o que você está querendo aqui é testar). Se você buscar uma empresa, vai ter menos dor de cabeça, porém vai gastar um pouco mais de dinheiro. Essa empresa te entrega tudo pronto, mas cobra mais por isso.

A opção que eu acho mais interessante para quem está querendo começar, tirar do papel uma ideia que provavelmente não vai ter muito recurso disponível, é buscar um programador freelancer. No Facebook tem grupos de várias linguagens de programação (PHP, java e assim por diante). Identifique qual linguagem você precisa, se é mobile ou se é web, e publique uma vaga. O valor/hora varia muito. Se você postar uma coisa em torno de R$ 30 por hora, você já deve achar programadores com experiência razoável para tocar esse projeto.

Outra alternativa que você pode ter para baratear ainda mais é falar com alguma faculdade da sua cidade, colocar um anúncio lá ou postar no grupo da faculdade, e achar alguém que está estudando ainda e que vai cobrar menos, e talvez tenha interesse para adquirir um pouco mais de experiência. Terceirizar é uma boa. Já vi projetos grandes que nasceram terceirizados e depois essa empresa contratou um programador e internalizou o desenvolvimento. Uma hora ou outra, isso precisa ser feito.

Por fim, a quarta opção, que eu acho a menos interessante de todas, é você buscar um sócio programador. Tende a dar problema, porque geralmente a pessoa que teve a ideia acha que precisa ter cota maior e oferece 10% ou 20% para o programador, em um primeiro momento o programador pode até se animar e depois ele ver o perrengue que vai ser para fazer isso vingar, vai abandonar o projeto. Com o código semipronto, para trocar de programador é um inferno. O único caso é se você tiver algum conhecido que já tenha confiança. Ou, se você tiver uma mente aberta, buscar um programador bom e dar 50% para o cara.

A empresa de tecnologia precisa ter um programador sócio, uma hora ou outra, e se você quer que o cara assuma o perrengue de tocar desde o começo (fazer o protótipo, identificar o que precisa ser feito, ficar um ano), não vai ser por 10% que ele vai assumir essa bronca. Vai ter que ser pelo menos 50%, ou se forem três sócios, 33,3% para cada um e assim por diante. Esses são os caminhos.

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